terça-feira, 18 de agosto de 2009

PELA LINHA FÉRREA ABANDONADA...

















Quem não gostaria de reter o tempo, de reter com toda vontade os instantes mais bonitos? Já pensou, ter uma máquina de ir e voltar à vontade, rodar a vida como uma máquina de cinema?! Não posso ver Cinema Paradiso sem ser dominada pela emoção. Suas teias me transportam a uma menininha sentada na platéia, sonhando com alegrias, festas, bailes, liberdade. Já sei, você também se encanta, se é amante da sétima arte. Não é só isso, o filme foi feito para os que amam a vida com suas possibilidades: o ir e o ficar, o recolher-se ou o atirar-se na longa corrida para o futuro, no que se deixa e no que se leva. Corrida faz pensar em viagens, em trens...
Eu viajo no pc, depois de receber um e-mail :Para quem gosta do Douro: Linha Pocinho-Barca d’Alva. Transporto-me a um Portugal tão querido. Imagens banhadas de sol mostram um caminho ferroviário, muitas vezes paralelo ao rio Douro. Quando era pequena, não podia entender por que casas velhas podem ter beleza, mas já as amava. Nas imagens do e-mail diversas estações se sucedem com sua resistência, ainda com suas memórias: Coa, Castelo Melhor (será que era?)uma lágrima, Alemandra, Barca d’Alva; cancelas, marcas de quilometragem com placas de ferro já carcomidas: 84,189,195, 197, todas fazem sombra ainda. Ainda há os dormentes, invadidos pelo mato com seu desejo de vida, postes de braços abertos, galhos secos de árvores caem e por lá ficam, até que a chuva e o sol os destruam finalmente; um túnel agora sem sentido aparece, às vezes há belas pontes sobre trechos do rio que passa indiferente ao homem e a seu tempo. Alguém deixou as marcas do seu momento, em paredes escuras de uma casa destelhada:Em 13-11-84 às 14:35h... E o rio ri! Tudo passa... Lemos a placa: Atenção aos comboios: PARE–ESCUTE-OLHE . E isto, precisamos sempre fazer.
E o trem prossegue em nossa imaginação. Se o mato invade, os galhos caem, quem se importa?
Só não consigo deixar de ver, por trás dessas imagens, rostos felizes e esperançosos, banhados pelo sol português. Muitos suspiros ainda se ouvem, se você escutar bem, no meio dessas pedras da via férrea. Entrem nas casas abandonadas, lá ainda estarão pessoas de mala na mão, ou sentadas, sentindo o cheiro que vem no vento sobre o rio Douro. Minha tataravó, talvez recém-casada, pensa em ir ao Brasil, buscar um futuro melhor, e nem sonha que uma rapariga nela estará a pensar, diante da tela de um pc, e sofrerá pela via férrea abandonada.
Também há beleza no que foi.

6 comentários:

  1. Maria Lucia de Almeida28 de agosto de 2009 às 15:08

    Que lindo texto, Elô! Fiquei emocionada.
    Parabéns, minha querida, você escreve lindamente.
    beijo
    Maria Lucia

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  2. Uma alma como a sua, irmã da minha, sabe o que estou sentindo! Obrigada, querida!

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  3. Elô, quanta poesia! Adorei o trecho 'um túnel agora sem sentido aparece, às vezes há belas pontes sobre trechos do rio que passa indiferente ao homem e a seu tempo'. Vc não ficou indiferente, ao contrário, emocionou-se, traduziu a terra portuguesa, suas lembranças ancestrais e ainda presentes. Tudo a ver. Parabéns!

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  4. Obrigada, minha poetisa! Você consegue captar meus sentimentos em relação ao rio , a Portugal. Escrevi o texto com grande sentimento. Estradas de ferro têm muito a ver com minha história pessoal também. Morei, nos dois primeiros anos, junto a uma linha de trem. Só agora acordei também para isto.
    Obrigada pelo comentário que enriquece esta página.

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  5. Elô, suas lembranças viram poesias lindas, tão bem expressadas nesse texto. Sua tataravó deve estar emocionada do lado de lá com sua alma sensível, querida. Parabéns da amiga do CLIc Angela Ellias.

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  6. Elô, amei as suas palavras cheias de encanto, lembranças e poesia.

    Beijos!

    Sonia Salim

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