sábado, 5 de janeiro de 2013

Uma poesia de Angola

 
PRELÚDIO
  
Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela...
Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guisos,
nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
  Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...
  Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada...
  Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?...
  Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?...
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...
  Mãe-Negra não sabe nada...
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe-Negra!...
Os teus meninos cresceram,
e esqueceram as histórias
que costumavas contar...
  Muitos partiram p'ra longe,
quem sabe se hão-de voltar!...
  Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.
  É a tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada..
Lisboa, 1951 (Poemas, 1966




ALDA LARA (Alda Ferreira Pires Barreto de Lara Albuquerque. Benguela, Angola, 9.6.1930 - Cambambe, Angola, 30.1.1962). Era casada com o escritor Orlando Albuquerque. Muito nova veio para Lisboa onde concluíu o 7º ano dos liceus. Frequentou as Faculdades de Medicina de Lisboa e Coimbra, licenciando-se por esta última. Em Lisboa esteve ligada a algumas das actividades da Casa dos Estudantes do Império. Declamadora, chamou a atenção para os poetas africanos. Depois da sua morte, a Câmara Municipal de Sá da Bandeira instituiu o Prémio Alda Lara para poesia. Orlando Albuquerque propôs-se editar-lhe postumamente toda a obra e nesse caminho reuniu e publicou já um volume de poesias e um caderno de contos. Colaborou em alguns jornais ou revistas, incluindo a Mensagem (CEI). Figura em: Antologia de poesias angolanas,Nova Lisboa, 1958; amostra de poesia in Estudos Ultramarinos, nº 3, Lisboa1959; Antologia da terra portuguesa - Angola, Lisboa, s/d (196?)1; Poetas angolanos, Lisboa, 1962; Poetas e contistas africanos, S.Paulo, 1963; Mákua 2 - antologia poética, Sá da Bandeira, 1963; Mákua 3, idem; Antologia poética angolana, Sá da Bandeira, 1963; Contos portugueses do ultramar - Angola, 2º vol, Porto, 1969. Livros póstumos: Poemas, Sá da Bandeira, 1966; Tempo de chuva (c), Lobito, 1973
 
Escritora Alda Lara, foi uma poetisa angolana, que criou uma grande produção poética, publicada apenas após a sua morte, através da recolha dos seus poemas feita pelo seu marido. Wikipedia
Nascimento: 9 de junho de 1930, Benguela
Falecimento: 30 de janeiro de 1962, Cambambe

3 comentários:

  1. Elô, lindo poema. Adorei. Você tem muita sensibilidade e me impressiona a facilidade que tem em conhecer as pessoas e saber identificá-las pelo que escrevem, em letras ou gestos. Parabéns!

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  2. Elo que poema lindo, nossa a poeta tem uma docilidade nos versos, sem mágoas, apenas a beleza da relação estabelecida entre ela e seus meninos que alimentou, que adocicou e acariciou. Depois dizem que os negros são selvagens e sem almas, não existe cultura no mundo que me convença da falta de emoção dos "nobres" com seus rebentos.

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  3. Sentydus de Carmen Mateus são plágios. Cuidado com plagiadora. Ela pode copiar-te.
    Verifica em:
    http://poemasdeamoredor.blogs.sapo.pt/269115.html

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